Todos os meses, o Reitor-mor dos Salesianos, padre Ángel Fernández Artime, escreve um artigo para os leitores do Boletim Salesiano. Neste mês de outubro, ele partilhou uma “lição da natureza”.

Amigos leitores e membros da querida Família Salesiana, recebam as minhas cordiais saudações. Para acompanhar a apresentação deste número do Boletim Salesiano, quero partilhar com vocês uma reflexão que me surgiu da realidade da vida e, mais concretamente, como lição da natureza.

Trata-se do seguinte. No mês de julho, tive a oportunidade de viver uma semana de serenidade e de paz em um retiro espiritual (exercícios espirituais), juntamente com os outros membros do Conselho Geral. O lugar em que nos encontrávamos era o mosteiro vallombrosiano de (justamente) Vallombrosa. Um lugar muito simples, sóbrio, situado em plena montanha, a mil metros de altitude. Um lugar fresco que convidava à oração, no meio de uma floresta de pinheiros, muitos deles com mais de vinte metros de altura. De fato, é uma das regiões florestais mais importantes da Itália.

Ali aprendi uma lição de biologia que me impressionou. Já tinha reparado que aqueles pinheiros eram muito altos, quase poderia dizer-se que eram exageradamente altos e muito retos. E a copa deles é muito reduzida, com pouca rama e pouca folha. Quase me atreveria a dizer que tinham o essencial para poder viver realizando as funções próprias das folhas e continuar a crescer.

 

Três características especiais

Perguntando a um especialista as razões de tal singularidade, disse-me que aqueles pinheiros e naquele lugar tinham três caraterísticas muito especiais. São estas: eram árvores que tinham raízes muito profundas, tronco muito flexível e copa (ramagem e folhas) muito pequena.

Perguntando-lhe a razão disto, deu-me uma explicação que me encantou.

– As raízes profundas são muito necessárias a cada pinheiro para poder encontrar umidade e água, por maior que seja a seca na superfície, por vezes com verões abrasadores, mesmo na montanha.

– O tronco alto (com cerca de 25 metros de altura em muitos deles, segundo me dizia) tem de ser muito flexível para poder bambolear, oscilar ao sabor do vento. Sem essa flexibilidade, principalmente com tanta altura, se partiriam facilmente se fossem mais rígidos.

– Por último, ter a copa tão pequena é, poder-se-ia dizer, um elemento de evolução natural para que nas grandes nevadas os ramos não se quebrem. Se fosse muito larga e com muita ramagem, sem dúvida que o peso da neve quebraria muitos ramos, pondo em perigo o pinheiro todo.

 

Lição de vida

Fiquei maravilhado com essa explicação mais que evidente. E disse comigo: Que metáfora incrível, que lição de vida da natureza para nós, humanos!

Pensei imediatamente em nós, em como será se conseguirmos viver com essas três caraterísticas. Isso é, primeiro, com grande profundidade e interioridade que nos permita encontrar a ‘água fresca’ da serenidade, da calma, da paz, mesmo nos dias mais difíceis, nos momentos de dor ou de desgosto, não ficaremos arrasados.

Se formos capazes de ser flexíveis no essencial, de ser versáteis quando o que está em jogo é importante, quando substituímos a intransigência pelo diálogo, pela escuta, pela paciência e pela proximidade que nascem do amor, não quebraremos facilmente.

E se, de verdade, buscarmos o essencial, isto é, o autêntico, o que nos é mais imprescindível e que mais nos enche, muitas outras coisas passarão a ser absolutamente relativas e nos sentiremos mais realizados, mais enriquecidos e mais completos em todos os sentidos.

 

Afeto e amizade

Parece-me que essa lição da natureza é muito oportuna neste ano em que tanto convidamos as famílias a ser, justamente, “escola de vida e de amor”. Isso é válido para as relações pessoais, para os vínculos no seio da família, para a educação e acompanhamento dos filhos. É válido para todas as relações de afeto e de amizade. Parece-me até oportuno para os espaços de trabalho. Enfim… para onde estiver em jogo quem somos, como somos e como nos desenvolvemos.

Creio que não esquecerei facilmente essa lição sempre que olhar para um bosque, especialmente de pinheiros altos e retos. Ao mesmo tempo que renovo as minhas cordiais saudações, convido vocês a se deixarem surpreender, se não levam a mal, por essa bela lição da natureza. Que linda marca o Criador deixou nisto!

Sejam felizes.

Pe. Ángel Fernández Artime

Fonte: http://www.boletimsalesiano.org.br/

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