Para Dom Bosco, todo jovem possuía um ponto sensível para o bem, o que definia para o educador/formador o dever de descobrir esse ponto, essa corda do coração e aproveitá-la.

Antes de demonstrar de que forma Dom Bosco definiu a amabilidade como um dos pilares das relações educativas, gostaria de refletir um pouco sobre a sua concepção. Para Dom Bosco, a amabilidade representava a amizade, o afeto, a proximidade entre as pessoas, a informalidade nas relações e um excelente nível de convivência. Dom Bosco, por meio das ações vividas em suas obras, demonstrava que a amabilidade exigia dos educadores/formadores um conjunto de comportamentos para que ela fosse devidamente sentida pelos jovens.

A amabilidade exigia que os educadores/formadores tivessem a capacidade de estar com a juventude, vivendo suas alegrias, dores, esperanças, incertezas e inspirando confiança, em um clima de familiaridade. O estar com os jovens colocava para os educadores/formadores a necessidade de cultivar o afeto. O afeto verdadeiro e profundo, algo que os jovens deveriam sentir, perceber como importante, duradouro, capaz de fazê-los viver a lógica da bondade e do amor, e, mais do que tudo, capaz de oportunizá-los à opção pelo seguimento de Jesus como guia e fonte de todo bem.

 

Pilar das relações educativas

Para Dom Bosco, todo jovem possuía um ponto sensível para o bem, o que definia para o educador/formador o dever de descobrir esse ponto, essa corda do coração, e aproveitá-la. Este ponto sensível, na obra de Dom Bosco, está identificado com sua disponibilidade educativa, isto é, com o conjunto de disposições e intencionalidades do educando, que permitem que o mesmo receba influências, relacione-se com elas, utilizando de suas estruturas pessoais, tendo em vista o amadurecimento, a personalização e a socialização.

Sabendo isso, Dom Bosco defendia para as relações educativas um modo concreto de expressar e despertar situações favoráveis a essa disponibilidade, algo de caráter revolucionário, a amabilidade. No Projeto Operativo de Dom Bosco, na sua origem, o ato de educar jamais abria mão do amor. Nele, educava-se conquistando e transformando a juventude a partir de um estilo próprio de relações pessoais. Tal estilo, vital na obra salesiana, era a expressão, por parte do educador/formador, de uma atitude de presença junto aos jovens, representando radicalmente uma assistência permanente.

A presença era algo vivo, cativante, animador, acolhedor e constante no educador/formador. Ela favorecia o processo de amadurecimento, socialização e personalização da juventude, que possuía como objetivo maior a formação de pessoas capacitadas, solidárias, empenhadas no trabalho e com uma vocação específica, isto é, pessoas em constante caminhada para a santidade.

 

A amabilidade hoje

Na atualidade não é tão fácil estabelecer a amabilidade. Existem inúmeras barreiras impedindo que a amizade, o afeto, a proximidade entre as pessoas, a informalidade nas relações e um excelente nível de convivência constituam parte de nossas comunidades educativas.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Amor líquido, afirma que “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos, feito água”. Em outras palavras, existe uma grande dificuldade de comunicação afetiva. Para ele, as relações terminam tão rápido quanto começam, não existem mais responsabilidades, a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas não sabem direito seu real significado.

Nós, herdeiros de um Projeto Operativo capaz de fazer valer as relações fundadas na amabilidade, precisamos buscar alternativas e estratégias para fazê-las reais e eficazes em nossas obras educacionais. Acredito que, tendo em vista a necessidade das relações fundadas na amabilidade, um caminho a ser adotado seria o da ciência, especialmente o da psicologia identificada com as relações interpessoais. A psicologia permitirá que façamos uma adequação da amabilidade com a atualidade, atendendo a um dos desejos de Dom Bosco: “Estejam com os tempos e lugares”.

Acredito que, a partir da psicologia, devemos estimular em nossas obras uma reflexão, um estudo, que tenha como foco “o outro”. Para nós, neste momento complexo da realidade, refletir sobre o outro significa oferecer condições para que ele recupere sua identificação com as relações de amabilidade.

Quais seriam tais condições? Inicialmente, devemos trabalhar para que o princípio da mudança interna do indivíduo constitua parte fundamental de seu processo de crescimento e seja de sua inteira responsabilidade. A seguir, precisamos ajudar o outroa tomar consciência dos recursos que ele possui dentro de si, de suas deficiências, dos valores que aspira, referenciais de sua existência humana. Em terceiro, é preciso favorecer o crescimento harmonioso do outro, o desenvolvimento de todas as suas funções psíquicas e espirituais. Por fim, precisamos fazer com que o diálogo constitua, nas relações fundadas na amabilidade, uma estratégia de promoção dos envolvidos.

Com tais ações, estaremos fazendo uma reelaboração original da amabilidade, tendo como elementos fundantes a consciência que a pessoa deve ter de si mesma, o senso de responsbilidade diante da vida e do outro, a capacidade de vencer obstáculos e a coragem de tomar decisões diante dos desafios contemporâneos.

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Fonte: http://www.boletimsalesiano.org.br/

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